terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sinto muito


Vejo muita gente alheia a dor outro. Encontro muita gente estéril de sentir. É muita gente se importando com o mundo de dentro e nem aí para o mundo que gira fora de si. É difícil encontrar quem se doa de coração ao próximo. É raro encontrar quem realmente se importa e queira o bem. Isso me assusta, e me machuca na mesma proporção. 

Estou me afastando, não apenas de uma pessoa, mas do mundo em geral. Preciso ter cautela. O meu sentir demasiado está me esmagando. As decepções me abriram os olhos e o convívio ponderou meu coração. Agora estou buscando me equilibrar. Meu limite chegou e agora estou em estado de alerta. Meu coração não quer mais sangrar e por isso ele ativou seu mecanismo de defesa. Estou tentando recompor os meus pedaços que cairam por aí. Acho que os perdi no caminho do amor.
Esqueci meus pedaços dentro de quem amei, de quem cuidei, de quem me importei e de quem sempre quis bem. Eu sempre dei tudo de mim e em troca, nada recebi. 
Não, meu amor não é um amor de trocas. Eu amo sem medir. Eu amo sem pensar. Eu não vendo o meu amor. Das tantas dúvidas que eu tenho sobre o amor, ainda tenho uma certeza: o amor não é corruptível (o meu, pelo menos não é). 

Ainda assim, não deixam de me machucar e mesmo doendo, não aprendi a dasamar. Deixar de amar alguém é uma das coisas mais difíceis pra mim. Sentimentos não são como os membros do corpo que o cérebro comanda. Eu entendi isso tardiamente. Mas não importa! Já vesti minha armadura. Já deixei um pé atrás. Confio desconfiando e mesmo assim tenho grandes chances de me decepcionar. Esse é o risco que quem se propõe a amar tem que correr, não é mesmo? 

Meu sentir demasiado não tem cura. Sinto muito por sentir muito. Sinto muito por sentir. Sinto muito. 


Alessandra Rocha

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Das batalhas que não falam



Quando um coração é partido, as esperanças fogem pra bem longe. Só permanece o medo, a dor, a insegurança e o ressentimento. O coração fica medroso. Um pouco covarde, eu diria. É necessário saber que só quem se arrisca, consegue ser feliz, mesmo que depois de muitas tentativas. O segredo é nunca parar de lutar.

O maior problema de todos é que ninguém nunca saberá o que você sente. Mesmo que tenha passado por algo parecido. O que dói em você, pode não doer da mesma forma no outro. É importante se atentar a isso. Os sentimentos são os mesmos, mas o sentir não. Só quem já amou, sabe o quão difícil é esquecer. Sabe mais ainda, o quão difícil é superar. Superar o amor perdido. Se superar.
Ninguém sabe de todas as decepções ou com quantas despedidas se fez a sua saudade. Ninguém sabe se essa é a primeira, segunda ou a sua milésima dor. Ninguém nunca saberá das suas noites insones pensando no que dizer num próximo encontro. Ninguém sabe quantos litros de lágrimas você já derramou. E o que mais ninguém sabe, são das batalhas que acontecem dentro de você. Você vive tentando pacificar o seu coração que insiste em fazer terrorismo. Você tenta dizer para a cabeça que não há mais razão no que você está sentindo. Mas ninguém te ouve. Os sentimentos não podem ser controlados, e é aí que se encontra o ponto crítico. Os sentimentos não são um objeto que vem com botão liga/desliga. Eles seguem seu próprio caminho, são impassíveis de comando. É necessário paciência no meio de tanta guerra. Porque as guerras mais difíceis de se vencer, são aquelas que traçamos contra os próprios sentimentos. Quanto mais se quer esquecer, é quando mais se lembra. Quanto mais não se quer sentir, é quando mais dói. Acho que a trégua só vem quando aceitamos a derrota. Faz-se necessário dar o braço a torcer. Coração não é bobo, sabe até quando aguenta e também sabe a hora de parar de insistir. Um dia ele volta a ficar vazio, mas não em paz. Porque o coração só fica em paz quando sabe que tem amor.

Um dia, um novo amor chega e o estômago começa a achar as borboletas que tinha perdido. 
O amor é uma batalha mansa quando começa e uma guerra devastadora quando acaba. E é no meio disso tudo que está o equilíbrio. O amor precisa se equilibrar numa corda bamba e ainda por cima, jogar malabares. O amor não é fácil, ele é doce. 
E depois de você dizer tantas e inúmeras vezes que não acredita mais no amor, ele reaparece pra te mostrar que você estava enganado mais uma vez. 


Alessandra Rocha

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Inquilina indesejada


A nova inquilina já havia se instalado dentro dela. Já estava até mudando os móveis de lugar e fazendo uma nova decoração. A mágoa era uma inquilina indesejada e ela sabia que teria que expulsá-la para que os sentimentos bons voltassem a fazer morada. 




Dois dias antes...



Gritos. Raiva. Choro. Cobranças. Ofensas. Sentimento de injustiça. 
Ela achou que não guardava mágoa, mas percebeu que varreu ela por muito tempo para debaixo do tapete. E esse tapete, encontrava-se em seu coração. 
Ainda havia vestígios de que nada tinha sido superado. Havia vestígios de ressentimentos antigos e que estavam ocultos há muito tempo. 
Ela desabou. Caiu em pedaços no chão do banheiro. Seu pranto fazia sintonia com as gotas de água que caiam abundantemente do chuveiro. Seu soluço era ensurdecedor. Ela tossia e sentia gosto de sangue na garganta. E ela sabia: aquele era o gosto eminente da mágoa. 
Ela sentia ânsia e queria vomitar. Mas como vomitar algo que está no coração? 
Ela se lavava com fervor. Estava banhada de água e lágrimas. Ela se esfregava com força e suplicava por cura. Ela pedia pra Deus, que lavasse aquela mágoa dela. Que levasse-a embora com a água que descia pelo esgoto.  

Ela saiu do banheiro. E ainda em prantos se vestia desesperadamente. Ela precisava sair daquele lugar. Ela precisava fugir. Pois não havia ninguém naquele recinto, capaz de ouvir o que o seu silêncio gritava, com a sensibilidade de entender o que o seu pranto pronunciava. Ela se sentia só. 
Naquele momento ela só precisava de um colo, um abraço. Ela só precisava de alguém que ouvisse o seu silêncio sem nada dizer. 

Ela saiu sem rumo. As únicas coisas que conseguiu pensar em pegar foram: chave, celular e fones de ouvido.
Ela precisava ficar só. Só consigo mesma. Mas ela lembrou que não ficaria só, havia uma inquilina dentro dela. E era a respeito disso que ela precisava pensar.
Ela olhava ao seu redor confusa. Tudo não passava de figuras embaçadas. Ela estava alheia ao mundo de fora. O que ela enxergava com nitidez era o mundo que pulsava dentro dela.
Ainda havia lágrimas. Mágoa liquída era o melhor nome para aquele rio incessante que escorria dos seus olhos. As lágrimas faziam companhia para a garoa que começou a cair. 

Depois de três horas longe, ela decidiu que tinha que voltar. 
Trocou de roupa. Deitou-se em sua cama e aquietou-se. Um emaranhado de pensamentos a perturbava e a mágoa fazia uma festa barulhenta em sua nova residência. Ela colocou novamente seus fones de ouvido, na tentativa de não mais pensar, de não mais ouvir a sua dor. E as lágrimas voltaram a cair. Ela lavou o rosto em vão, antes de se deitar. 
M-Á-G-O-A, ela soletrava pra si mesma. Quanta mágoa!
Ela sabia que tinha que fazer algo quanto a isso, e entregou sua dor em oração para Deus.
 ORAR-AÇÃO.
Além de orar, ela teria que agir. Mas como? O que fazer pra tirar aquela inquilina indesejada de dentro de si? 
Respirou fundo e ficou procurando uma solução. Mas tão exaurida de tudo, ela dormiu sem saber. 


"Por favor... 
Deixe em paz meu coração. 
Que ele é um pote até aqui de mágoa.
 E qualquer desatenção, faça não.
 Pode ser a gota d'água."

Chico Buarque



Alessandra Rocha 
  


domingo, 6 de janeiro de 2013

Um ponto final e fim.


Lágrimas. Abraço de despedida. Saudade. Nostalgia. Vontade de recomeçar. 
É assim que tentamos aceitar o fim: sem querer.
Quando o fim chega, só nos cabe aceitar. A verdade é que todo fim é doloroso. Fica toda uma história pra trás, guardada apenas na lembrança. Tudo parece real, ao fechar dos olhos. 
Depois de tanto tempo num relacionamento de amor, você se vê nos braços do adeus. Apenas um ponto final e é o fim. Embora eu saiba, que todo relacionamento tem começo, meio e fim, dói aceitar. Principalmente quando aquele contato nos toca de alguma forma. Ou quando é marcante demais pra tentar recomeçar com outro. 
E o que fazer depois do fim? Procurar outra história? Distrair-se, procurando um novo amor? Não é fácil desapegar-se de uma história tão linda e tocante. 
A verdade é que nunca será fácil terminar de ler um livro. Porque quando começamos a ler, entramos dentro da história e ela passa a ser, de certa forma, nossa história também. Nos identificamos com os personagens e por vezes, sentimos o que eles sentem. Sorrimos, choramos e imaginamos, em cada momento, como é estar na pele deles. E isso basta, para sentirmos que alguma coisa ficou. E é por tudo isso que se torna doloroso aceitar o fim. Tantas linhas lidas com cuidado e atenção, cada página virada com ânsia e carinho. Não sei ao certo como me sinto quando termino um livro. Talvez eu sinta vazio. Não, vazio não! Porque quando acabamos de ler um livro, ficamos cheios (de lembranças) dele. Na verdade, sentimos saudade. Sim. Saudade de tudo o que vivenciamos através dele. 
E é por isso que, de tantos desejos que tenho, um deles é um dia poder morar dentro de um livro com final feliz. Seria mágico. Literalmente mágico!


Alessandra Rocha