terça-feira, 26 de junho de 2012

Medo de ficar


Eles se amavam. Essa era a única certeza da vida deles. O resto era consequência.
A mãe dela não queria, o pai não aceitava. Os amigos dele diziam que não daria certo. As amigas falavam pra ela esquecer. Mas os dois continuavam, os dois acreditavam piamente que tudo daria certo. Eles estavam certos do que queriam.
- Você me ama? - perguntou ele temeroso.
- Amo muito e você sabe disso.- ela respondeu sem hesitar.
- Então, se você me ama, segure a minha mão e fuja comigo. Venha ganhar o mundo ao meu lado?
Ela sorriu, concordou lentamente com a cabeça e pegou a sua mão.
Ela havia acabado de completar 18 anos e queria começar faculdade de direito. Ele, um ex-presidiário, já estava há quatro meses em liberdade. Era compreensível a preocupação dos pais e dos amigos, mas os dois não conseguiriam viver longe um do outro. Era amor o que eles sentiam. E quem consegue deter a força do amor?
Ela sabia o risco que corria, mas lembrou que só se ama de verdade uma vez e que esse seria o risco mais lindo e nobre que ela poderia correr. 
Embora tivesse medo de partir, ela tinha mais medo de ficar (sem ele). 


(Alessandra Rocha)

sábado, 16 de junho de 2012

Sinta para entender


- Oi. Quanto tempo não? Já faz algum tempo que você não aparece. O que aconteceu hoje? Não havia ninguém além de mim para você visitar?


 Hoje eu acordei meio sei lá. Estava tudo chato, tudo estranho e meio sem cor. Minha paciência resolveu dar uma volta. Ela disse que seria uma volta de apenas 5 minutos, mas eu pude perceber que foi uma volta de mais ou menos duas horas. Ela me fez falta durante essas horas em que se ausentou. O sol estava quente e me irritava. A casa estava fria e me irritava. Na tv não passava nada de interessante. O chocolate na cômoda não parecia apetitoso. Aquela nostalgia do não entender a sua existência no mundo surgiu. Aquela inquietude de não encontrar um lugar para conseguir se aquietar apareceu. Aqueles pensamentos confusos e pesados começaram a me incomodar. Eu estava com aquela antiga irritação de viver. E então eu percebi: era dia dela me visitar. Aquela velha conhecida e companheira de momentos variados. Ela aparecia assim, sem hora marcada, a qualquer momento e em qualquer lugar.
- Então, hoje eu acordei assim. Sempre tem um dia né? Você sabe como é. Você acorda sem vontade de acordar e passa o dia inteiro tentando voltar a dormir mesmo sem sentir sono. Não sei por que isso acontece, mas sei que a culpa é sua. Tento entender porque você existe.
- Sim, sei bem como é. Sei exatamente como é porque sou eu a causadora disso, e posso dizer que você também é. Você precisa buscar no âmago do seu ser o que te deixou assim. Só assim eu conseguirei te ajudar.  Você tem que me sentir profundamente, sem questionar a minha presença. Sem pedir que eu vá embora. Eu só vou quando tiver cumprido a minha missão.
- Me aliviou muito saber que a causa desse descontentamento sou eu mesma. Fiquei muito feliz por saber que você aparece pra me ajudar. Mas na real, não é o que parece. Você deve estar confusa, apenas isso explica essa incoerência toda.  Na verdade, você deve estar com amnésia. Acho que você nem deve lembrar qual é o seu nome. Pergunto-me que missão é essa que você tem que cumprir.
- Menina, é claro que eu lembro o meu nome. Chamam-me de Tristeza, mas eu acho que não combino com esse nome. Veja bem, no dicionário a minha definição é: estado de quem sente insatisfação, mal-estar ou abatimento, por vezes sem razão aparente; melancolia, angústia, inquietação. Eu acredito que sou muito mais que isso. Eu venho pra transformar. Você não acha?
- Pois é Tristeza, a sua definição no dicionário está corretíssima e é exatamente assim que eu me sinto. Estou insatisfeita com nada e com tudo ao mesmo tempo, estou inquieta, abatida, angustiada, melancólica e tudo isso sem motivo algum. Simplesmente acordei assim. Agora me explique o que você veio transformar.
- Ok menina, você tem um pingo de razão. Mas me diga, o que você fez ontem?
- Pingo de razão? O que eu fiz ontem? É senhora Tristeza, você realmente não está bem...
- Ande menina, pare de dizer que não estou bem e me conte.
- Hum... Bem... Ontem eu acordei e tomei café da manhã. Tomei banho, fui ao centro da cidade comprar algumas bobagens e reencontrei alguns amigos. Conversei um pouco e depois fui pra casa. Tive um desentendimento com meus pais no meio da tarde e a noite machuquei meu dedo tentando arrumar o meu celular que quebrou. Antes de dormir discuti com a minha irmã e depois demorei pra pegar no sono. Lembro que a última vez que fui beber água, já passava das três da madrugada.
- Hum, explicado.  Ansiedade, saudade, mágoa, raiva, dor, estresse e cansaço. Pronto, acho que  já posso ir embora.  Fique bem menina. Até algum dia...
- Não Tristeza, espere, não terminei de falar...
Fiquei lembrando-me do dia anterior. Peguei minha agenda e marquei de combinar na próxima semana um encontro com aqueles velhos amigos. Resolvi pedir desculpas pela injustiça que cometi com meus pais. Lembrei que meu antigo celular ainda funcionava e que eu o adorava. Minha irmã me entregou um sonho de valsa e disse algo sobre uma banda de reggae ao deixar algumas coisas em cima da mesa. E depois de um cochilo no meio da tarde, nem lembrei que a senhora Tristeza tinha vindo me visitar. Ela cumpriu a sua missão.
Da próxima vez, vou adiantar o trabalho dela. Eu sei que ela gosta de mim e sempre que ela aparece, ela me faz algum bem. Só tenho que saber senti-la para entender o que é que ela quer me dizer.  
( Alessandra Rocha)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Grande como a distância


 

A          d i s t â n c ia  é         GRANDE

e            insiste    em   me atormentar

Nasce uma  dor       conhecida

uma         i   q   i    t    d    no meu ser
                 n   u   e   u   e

Eu         fico   aqui      sozinha

procurando                   compreender

Porque   é   que   dói       tanto assim

Essa           saudade   de           você.



(Alessandra Rocha)