segunda-feira, 7 de maio de 2012

O amor me (re)encontrou


Não. Eu não sei o que é o amor.E acredito que daqui a 50 anos, ainda não saberei. Mas quando me encontro naquele olhar doce e mergulho naquele abraço terno, descubro o que é amar. Quando o admiro ao dormir, percebo o que é estimar. Quando fico feliz por saber que ele está feliz, entendo o que é querer bem. Quando ouço suas palavras de amor e quando sou sugada por seus beijos apaixonados, desvendo o que é ser amada. 
Eu não sei o que é o amor. Eu apenas sinto. Mas nem sempre foi assim. 


Alguns anos antes...




Eu era uma menina. Uma menina ingênua e feliz. Ainda não tinha amadurecido por completo e talvez, por esse motivo, o amor me encontrou.
Apaixonei-me por um amigo de infância, que na época, já era apaixonado por mim. Não chegamos a namorar, mas o tempo que ficamos juntos, bastou para que o amor brotasse em meu coração. 

Entre tantos desencontros, a nossa história chegou ao fim. Quando terminamos, meu coração se abriu em prantos. Rompemos algo que nem ameaçou ser. O único desafio a partir dali, era lidar com a sensação de algo inacabado. Porque tinha ficado inacabado. Ficou inacabada a nossa conversa, ficaram inacabadas as explicações, a além de tudo, ficou inacabado os sentimentos. Numa história onde existe começo, meio e fim, a nossa parou no meio e lá permaneceu. Um relacionamento inacabado foi tudo o que ficou.

Ele me decepcionou muito, e ainda assim, eu gostava dele. Mesmo com a decepção, eu não conseguia esquecê-lo de nenhuma maneira. Mesmo lembrando TODOS os defeitos que ele tinha, mesmo lembrando cada ato babaca que ele teve, mesmo sabendo que tinha milhões de rapazes melhores por aí, mesmo usando todas as táticas possíveis de desapego, parecia que o que eu sentia por ele só fazia aumentar. Ele não saia dos meus pensamentos e cada vez que eu esbarrava com ele na rua, meu coração acelerava, minhas pernas bambeavam e as minhas mãos ficavam gélidas. Eu me odiava toda vez que isso acontecia. Eu me sentia uma fraca, uma completa idiota.  

Em menos de uma semana ele começou a namorar. O namoro não durou um mês. Ouvi dizer que a namorada o traiu. Mas ele superou, e eu diria que até rápido demais. 
Depois de alguns meses ele começou a namorar novamente e eu, continuei sofrendo em segredo.  Qualquer lembrança ou qualquer encontro casual era uma tortura na minha vida. Chorei noites intermináveis. E achei que meu coração nunca fosse se curar.  
Apesar do namoro, minha intuição me dizia que ele ainda sentia algo por mim. Talvez ele realmente sentisse, ou então era apenas o desejo da minha mente apaixonada. Eu só me perguntava por que ele sempre dava um jeito de saber da minha vida. Toda vez que um amigo meu ia em casa, ele perguntava para o meu irmão se era meu namorado. Sempre que eu passava, ele fazia questão de me falar “oi”, mesmo sabendo que não teria resposta. Eu tentava entender o porquê de tamanha cordialidade. Parecia um sentimento de posse. Ele se sentia dono de mim, mesmo não estando comigo. Mal sabia ele, que ele era realmente dono de alguma coisa. Ele era dono do que eu tinha de mais valioso. Ele era dono do meu coração. 
Ele me intrigava. A verdade é que eu não olhava mais pra ele. Eu sequer falava “oi”. Indiferença era a minha única arma. Apesar de ser uma máscara, ela valia de alguma coisa. 
Passei longos anos assim: mostrando indiferença por fora e sofrendo por dentro. Quando eu achava que tinha esquecido, ele voltava para a minha vida em forma de sonhos. Eram sonhos lindos, mas que se tornavam pesadelos ao abrir dos olhos. 
Minha alma não encontrava paz. Eu queria me libertar. Eu queria tirar aquele sentimento do meu coração. Eu estava me tornando uma pessoa desacreditada. Desacreditada, contudo, no amor.

Não deixei que mais ninguém habitasse meu coração. Não permiti que mais ninguém entrasse na minha vida. Na verdade, nem eu me encontrava mais naquela bagunça. Eu estava exausta e cansada de tentar esquecer. Eu havia me perdido de mim.
Mesmo sofrendo e sangrando por dentro, tentei tirar toda lição possível dessa situação. Eu aprendi muito e foi através dessa dor que eu amadureci. 
Comecei a ver o mundo de outra forma. Comecei a observar os relacionamentos ao meu redor de forma crítica. Transformei esse sentimento em poema, história, escudo, espada. Transformei esse sentimento em antídoto contra outros possíveis e futuros machucados. Eu aprendi.  
Com o passar do tempo, fui abstraindo qualquer lembrança dele que ainda vivia em mim. Eu decidi que queria de verdade esquecê-lo e prometi que não iria falhar. Não dessa vez. 
Parei de ouvir as músicas que me lembravam dele, havia uma plaquinha no meu subconsciente escrito “PROIBIDO ESCUTAR”. Tentei desviar o pensamento quando, andando pela rua, passasse alguém com o perfume que ele usava. Livrei-me dos diálogos que habitavam a minha memória. Libertei-me da mania de lembrar todo ano do aniversário dele. Protegi-me contra os vacilos do meu coração. Implantei um escudo na minha mente contra qualquer ilusão sobre os seus sentimentos. Proibi a mim mesma, de escrever sobre ele. Já havia coisa demais na minha gaveta. Já havia lembrança demais na minha memória. 
A partir de então, recuperei a minha vida. Recuperei a minha paz. Recuperei tudo o que eu fui um dia. Não foi fácil, nem rápido. Mas e quem disse que seria? 
Entre tantos furacões e tempestades, a calmaria retornou para a minha vida. 
Eu estava leve. Eu estava renovada. Eu estava bem e pronta para recomeçar. 
Deixei de esperar muito das pessoas. Deixei de acreditar em muita coisa. Mas jamais deixei de acreditar no amor. Eu não procurava por ele, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele me reencontraria. 



Esqueci o objeto do amor. Não havia dor, mágoa, tristeza ou rancor. Só havia vazio. O vazio tomou conta de tudo. Meu coração nunca esteve tão mudo. Às vezes o vazio doía, até mais do que a própria dor. Mas eu estava bem, apenas não estava feliz como imaginei que ficaria. Faltava algo. E eu não sabia ao certo o que era. Era como se um pedaço meu, estivesse perdido por aí. E estava.




Depois de tanto sofrer, não imaginei que eu (ainda) fosse capaz de amar. Mas o amor me reencontrou. Ele me reencontrou quando eu menos esperava.Esse novo amor me mostra ser verdadeiro a cada dia, porque ele não me faz andar nas nuvens, ele me faz flutuar sem tirar os pés do chão. Ele não me faz sentir medo, ele aumenta ainda mais a minha fé. Ele não espera recompensa, ele se doa sem nada cobrar. Ele não cura as minhas feridas, ele me faz sentir como se jamais houvesse sido ferida. Se houve dor, sinto muito, eu não lembro. 



“Entre a dor e o nada o que você escolhe?”
Carlos Drummond de Andrade 



(Alessandra Rocha)






Um comentário:

  1. Um adjetivo para este texto: eu. Suas palavras descrevem como me sinto agora. Suas experiências são muito minhas, também. Sim, dói. Mas fico feliz por saber que há esperança. Por saber que ele, o amor, voltará. E ele sempre nos encontra.

    Por isso que gosto tanto de ti. Você entende o que sinto.

    Fique bem, minha linda. Cuida-te.

    Beijos...

    ResponderExcluir