Não. Eu não sei o
que é o amor.E acredito que daqui a 50 anos, ainda não saberei. Mas quando me
encontro naquele olhar doce e mergulho naquele abraço terno, descubro o que é
amar. Quando o admiro ao dormir, percebo o que é estimar. Quando fico feliz por
saber que ele está feliz, entendo o que é querer bem. Quando ouço suas palavras de amor e quando
sou sugada por seus beijos apaixonados, desvendo o que é ser amada.
Eu não sei o que é o amor. Eu apenas sinto. Mas nem sempre foi assim.
Alguns anos antes...
Eu era uma menina.
Uma menina ingênua e feliz. Ainda não tinha amadurecido por completo e talvez,
por esse motivo, o amor me encontrou.
Apaixonei-me por um amigo de infância, que na época, já era apaixonado por mim. Não chegamos a namorar, mas o tempo que ficamos juntos, bastou para que o amor brotasse em meu coração.
Apaixonei-me por um amigo de infância, que na época, já era apaixonado por mim. Não chegamos a namorar, mas o tempo que ficamos juntos, bastou para que o amor brotasse em meu coração.
Entre tantos desencontros, a nossa história chegou ao fim. Quando terminamos, meu
coração se abriu em prantos. Rompemos algo que nem ameaçou ser. O único desafio
a partir dali, era lidar com a sensação de algo inacabado. Porque tinha ficado
inacabado. Ficou inacabada a nossa conversa, ficaram inacabadas as explicações,
a além de tudo, ficou inacabado os sentimentos. Numa história onde existe
começo, meio e fim, a nossa parou no meio e lá permaneceu. Um relacionamento
inacabado foi tudo o que ficou.
Ele me decepcionou muito, e ainda assim, eu gostava dele. Mesmo com a decepção,
eu não conseguia esquecê-lo de nenhuma maneira. Mesmo lembrando TODOS os
defeitos que ele tinha, mesmo lembrando cada ato babaca que ele teve, mesmo
sabendo que tinha milhões de rapazes melhores por aí, mesmo usando todas as
táticas possíveis de desapego, parecia que o que eu sentia por ele só fazia
aumentar. Ele não saia dos meus pensamentos e cada vez que eu esbarrava com ele
na rua, meu coração acelerava, minhas pernas bambeavam e as minhas mãos ficavam
gélidas. Eu me odiava toda vez que isso acontecia. Eu me sentia uma fraca, uma
completa idiota.
Em menos de uma semana ele começou a namorar. O namoro não durou um mês. Ouvi
dizer que a namorada o traiu. Mas ele superou, e eu diria que até rápido
demais.
Depois de alguns meses ele começou a namorar novamente e eu, continuei sofrendo
em segredo. Qualquer lembrança ou
qualquer encontro casual era uma tortura na minha vida. Chorei noites
intermináveis. E achei que meu coração nunca fosse se curar.
Apesar do namoro, minha intuição me dizia que ele ainda sentia algo por mim. Talvez
ele realmente sentisse, ou então era apenas o desejo da minha mente apaixonada. Eu
só me perguntava por que ele sempre dava um jeito de saber da minha vida. Toda
vez que um amigo meu ia em casa, ele perguntava para o meu irmão se era meu
namorado. Sempre que eu passava, ele fazia questão de me falar “oi”, mesmo
sabendo que não teria resposta. Eu tentava entender o porquê de tamanha
cordialidade. Parecia um sentimento de posse. Ele se sentia dono de mim, mesmo
não estando comigo. Mal sabia ele, que ele era realmente dono de alguma coisa. Ele
era dono do que eu tinha de mais valioso. Ele era dono do meu coração.
Ele me intrigava. A verdade é que eu não olhava mais pra ele. Eu sequer falava
“oi”. Indiferença era a minha única arma. Apesar de ser uma máscara, ela valia
de alguma coisa.
Passei longos anos assim: mostrando indiferença por fora e sofrendo por dentro.
Quando eu achava que tinha esquecido, ele voltava para a minha vida em forma de
sonhos. Eram sonhos lindos, mas que se tornavam pesadelos ao abrir dos olhos.
Minha alma não encontrava paz. Eu queria me libertar. Eu queria tirar aquele sentimento
do meu coração. Eu estava me tornando uma pessoa desacreditada. Desacreditada,
contudo, no amor.
Não deixei que mais
ninguém habitasse meu coração. Não permiti que mais ninguém entrasse na minha
vida. Na verdade, nem eu me encontrava mais naquela bagunça. Eu estava exausta
e cansada de tentar esquecer. Eu havia me perdido de mim.
Mesmo sofrendo e
sangrando por dentro, tentei tirar toda lição possível dessa situação. Eu
aprendi muito e foi através dessa dor que eu amadureci.
Comecei a ver o mundo de outra forma. Comecei a observar os relacionamentos ao
meu redor de forma crítica. Transformei esse sentimento em poema, história,
escudo, espada. Transformei esse sentimento em antídoto contra outros possíveis
e futuros machucados. Eu aprendi.
Com o passar do tempo, fui abstraindo qualquer lembrança dele que ainda vivia
em mim. Eu decidi que queria de verdade esquecê-lo e prometi que não iria
falhar. Não dessa vez.
Parei de ouvir as músicas que me lembravam dele, havia uma plaquinha no meu
subconsciente escrito “PROIBIDO ESCUTAR”. Tentei desviar o pensamento quando,
andando pela rua, passasse alguém com o perfume que ele usava. Livrei-me dos diálogos
que habitavam a minha memória. Libertei-me da mania de lembrar todo ano do
aniversário dele. Protegi-me contra os vacilos do meu coração. Implantei um
escudo na minha mente contra qualquer ilusão sobre os seus sentimentos. Proibi
a mim mesma, de escrever sobre ele. Já havia coisa demais na minha gaveta. Já
havia lembrança demais na minha memória.
A partir de então, recuperei a minha vida. Recuperei a minha paz. Recuperei
tudo o que eu fui um dia. Não foi fácil, nem rápido. Mas e quem disse
que seria?
Entre tantos furacões e tempestades, a calmaria retornou para a minha vida.
Eu estava leve. Eu estava renovada. Eu estava bem e pronta para recomeçar.
Deixei de esperar muito das pessoas. Deixei de acreditar em muita coisa. Mas
jamais deixei de acreditar no amor. Eu não procurava por ele, mas eu sabia que mais
cedo ou mais tarde ele me reencontraria.
Esqueci o objeto do amor. Não havia dor, mágoa, tristeza ou rancor. Só havia
vazio. O vazio tomou conta de tudo. Meu coração nunca esteve tão mudo. Às vezes
o vazio doía, até mais do que a própria dor. Mas eu estava bem, apenas não
estava feliz como imaginei que ficaria. Faltava algo. E eu não sabia ao
certo o que era. Era como se um pedaço meu, estivesse perdido por aí. E estava.
Depois de tanto sofrer, não imaginei que eu (ainda) fosse capaz de amar. Mas o
amor me reencontrou. Ele me reencontrou quando eu menos esperava.Esse novo amor me mostra ser verdadeiro a cada dia, porque ele não me faz andar
nas nuvens, ele me faz flutuar sem tirar os pés do chão. Ele não me faz sentir
medo, ele aumenta ainda mais a minha fé. Ele não espera recompensa, ele se doa
sem nada cobrar. Ele não cura as minhas feridas, ele me faz sentir como se
jamais houvesse sido ferida. Se
houve dor, sinto muito, eu não lembro.
“Entre
a dor e o nada o que você escolhe?”
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
(Alessandra Rocha)
Um adjetivo para este texto: eu. Suas palavras descrevem como me sinto agora. Suas experiências são muito minhas, também. Sim, dói. Mas fico feliz por saber que há esperança. Por saber que ele, o amor, voltará. E ele sempre nos encontra.
ResponderExcluirPor isso que gosto tanto de ti. Você entende o que sinto.
Fique bem, minha linda. Cuida-te.
Beijos...