quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dizer adeus


Desde muita pequena fui obrigada a dizer adeus. Aos 5 anos mudei de cidade. Mas não foi só a cidade que mudou. Mudou também a casa, o lugar, os parentes, os amigos. Tive que dizer adeus. E  então eu disse.
Mudei 4 vezes de casa e de escola ao longo do tempo. Fiz novos amigos e muitos outros perdi pelo caminho. Acho que os esqueci em algum lugar.
Tive que dizer adeus. E então eu disse. 

Disse adeus ao meu antigo peso, cabelo, comportamento, pensamento. Disse adeus a velhas manias e a mágoas que de nada valia.
Tive que dizer adeus. E com muito orgulho, eu disse. 

Há 2 anos atrás tive que dizer adeus a colegas de trabalho. Mas antes de dizer, eu deixei uma dedicatória com uma citação do filósofo Platão para cada uma das minhas meninas. Eu disse adeus, mas dessa vez, uma lembrança minha ficou.
Hoje digo adeus a outros colegas de trabalho. Digo adeus levando conhecimentos raros e lembranças de cada um na minha bagagem. Preciso dizer adeus, mas dessa vez não direi,  prefiro "até algum dia".

(Alessandra Rocha)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Descobrincando


Aos 4 anos ela descobriu que podia voar. E voava. Voava como um pássaro. Voava como uma fada. Ela descobriu que podia ser o que quisesse. Ela descobriu que podia ser a princesa do conto de fadas que sua mãe lhe contava ou um astronauta que pousa na lua. Ela descobriu que podia viajar. Ela descobriu uma maneira de viajar sem pagar nada por isso. Ela descobriu o mundo da imaginação.
E a menina ficou feliz porque descobriu que sonhar não custa nada. 

(Alessandra Rocha)

Ela não queria amar





Estava frio. Era um dia frio e nublado. Ela não gostava quando o dia ficava assim. Para ela, todo dia nublado era triste e melancólico. Aquele não seria um dia bom - ela pensou.
Seu telefone tocou. Era ele com um tom firme e sério:

- Alô?
- Alô, preciso te ver hoje. Nós precisamos conversar.
- Nossa... Bom dia, eu estou bem obrigada, e você, como está?
Ele odiava ironia. Ela deveria se lembrar.
- Estou bem. Te encontro as onze na “nossa” praça. Ttutututu – ele desligou sem esperar resposta.

Ela sentiu pelo tom de voz que algo não estava bem. Ela pensou que aquele não seria m dia ruim, seria um dia péssimo. Ela sentiu medo: “O que será que ele quer me falar? Se ele escolheu pra falar na nossa praça, não pode ser coisa ruim. Vivemos tantos momentos lindos lá. Não seria justo.”

Onze horas e dois minutos. Ela aproximava-se lentamente, observando. Ele estava sentado no banco impaciente. Batia o pé no chão nervoso e preocupado.

- Oi. – ela disse trêmula.
- Oi. Sente-se. – ele disse dando um beijo seco em seu rosto.
- E então. O que de tão importante você tem que me falar a ponto de me ligar às oito horas da manhã?
- Hã... Bem... Já faz algum tempo que o nosso relacionamento anda abalado...
- Como assim abalado? Até ontem estava tudo bem.
- Não. Não estava tudo bem. Você sempre acha que está tudo bem. Você fechou os olhos para não ver muita coisa. Você não quis ver que o nosso relacionamento já não está mais como antes.

Isso explica os sumiços injustificados aos domingos. Os atrasos nos encontros. O descaso com as angústias dela. A falta de interesse pelas suas conquistas

- Sim. Eu assumo. Eu real mente havia percebido o seu desânimo no nosso namoro. Mas por te amar tanto, eu fingia não notar.
- Pois é. E esse é um dos motivos pelo qual eu quero terminar. Você me deixa fazer o que quiser. Você não confia em mim, mas diz sim pra tudo com medo d’eu terminar. Eu me pergunto onde anda a sua personalidade. Cadê o seu pulso firme de namorada? Eu te amei muito, mas sinto que você não soube me amar.
- É claro que eu soube. É claro que eu sei. Eu sempre fiz tudo o que você quis. Eu sempre disse tudo o que você queria ouvir. Eu sempre deixei você livre pra fazer o que quiser.
- Realmente. Você me deixou livre demais. Livre feito um passarinho que voou e não quer mais voltar. Amar não é fazer tudo o que o outro quer muito menos dizer tudo o que o outro quer ouvir. Isso se chama submissão e se eu quisesse um cachorrinho, já teria comprado num pet shop não acha?
- Mas porque você não me disse isso antes? Porque você deixou chegar a esse ponto?
- Olha só você de novo. Eu não tinha que te dizer o que fazer. Você que tinha que perceber através das minhas reações as suas ações. Ou vai me dizer que você nunca percebeu?  Se você me amasse, você perceberia cada gesto meu e questionaria a minha cara brava, o meu olhar de censura, a minha fala séria, o meu jeito seco. Mas até isso você fingia não notar. O que me deixa triste é que no começo você não era assim. Suas amigas que fizeram a sua cabeça. Tudo o que elas diziam era “lei” e quem era eu pra competir? Eu não tinha o que fazer.
- Não. Espera. Você não precisa terminar. Ainda temos uma chance. Eu prometo que vou mudar.
- Não. Agora é tarde. Sabe aquela sua colega do trabalho? Então. Já faz um mês que estamos juntos. Eu estou gostando dela de verdade. Estou terminando com você pra pedir ela em namoro. A nossa história chegou ao fim e eu só quero que você saiba que a culpa é sua.

A surpresa que ela teve, fez ela engolir suas palavras. O silêncio e as lágrimas falavam por ela agora. Ela ficou quieta, absorta em seus pensamentos. Nem percebeu quando ele disse adeus  deixando uma carta ao seu lado. O replay na sua memória serviu para que ela reconhecesse sua culpa. Quando ela voltou em si, percebeu a carta ao seu lado e ainda chorando, abriu e começou a ler.


Minha menina...


Não chore. Sinto muito ter dito tudo isso. Sei que foi difícil digerir essas palavras. Mas aposto que antes de ler essa carta, você reconheceu que a culpa foi sua. Acertei? Imagino também que você tenha imaginado que eu não terminaria com você nessa praça, cenário de todos os momentos lindos que passamos juntos. Mas sim, terminei. Terminei aqui e no futuro você entenderá que o que eu fiz foi para o seu bem.
Você lembra da nossa primeira briga? Lembra que foi por causa daquela sua amiga de infância? Aliás, 90% das nossas brigas foram por causa de alguma amiga sua. Você sempre as amou mais que a mim. Na verdade, você sempre amou elas e nunca a mim. Você não acreditou na gente. Você nunca fez planos comigo. Já eu, me imaginava casando e tendo filhos com você. Posso dizer que você tentou e foi por isso e por te amar tanto que ficamos esses 10 meses juntos. Mas agora acabou. Acabou porque suas amigas não te deixavam pensar sozinha. Acabou porque dos dois, eu sempre amei  mais. Acabou porque os nossos sonhos não eram os mesmos. Acabou porque você foi imatura e não soube me amar.

Um beijo. Fica bem e até qualquer dia.



Depois de ler a carta, ela secou as lágrimas, levantou, pegou seu celular e discou um número.

- Alô? Oi amiga, tudo bem? Tenho novidades, estou solteira. Chama as meninas porque hoje eu quero ir pra balada. 


É claro que ela sabia amar.

Ela só não estava pronta para amar naquele momento. Ela tinha apenas 17 anos.


Alessandra Rocha

terça-feira, 22 de maio de 2012

Confiança de Vidro



Apenas um deslize

Dezenas de conseqüências
Nada mais...

Aquele vidro valioso, num descuido foi ao chão

Desculpa, amigo
Perdão, amiga
Um erro só
Levou tudo a perder


E é tão frágil a minha confiança agora.



P.S: Inspirado na "Canção de Vidro" de Mario Quintana.
( Alessandra Rocha )




sexta-feira, 18 de maio de 2012

Sentimento Imutável


"O Pai é sempre o maior herói dos filhos." 


As lágrimas insistem em cair quando penso que o amanhã pode não ser o bastante. Que em um segundo, você pode não estar mais aqui.
Um nó na garganta impede a minha respiração e a única coisa que eu quero é ter você pra sempre do meu lado. 
Foi você que presenciou os meus primeiros passinhos quando pequena. Foi você que me ensinou o caminho correto a seguir. Foi você que me carregou no colo e me protegeu de todos os perigos que me assombraram. Foi você que cuidou das minhas dores e dos meus medos. 
Você sempre mostrou como deve agir um HOMEM de verdade. Aquele que não foge das suas responsabilidades e que se preocupa com a família antes de se preocupar consigo mesmo. Você se tornou o herói da minha vida real nesses meus 21 anos de vida

Sim, você tem gênio forte com o qual às vezes fica difícil lidar, mas são com os nossos defeitos e apesar deles, que percebemos o quanto somos amados. 
Já chorei noites inteiras ao pensar que um dia não te terei mais comigo. Eu ainda choro, mas é um choro contido, que vive aqui dentro de mim.
Houve dias em que eu não consegui pegar no sono enquanto você não chegasse sã e salvo em casa. Houve momentos em que eu desejei ser mais forte, para conseguir sarar as suas dores (que eu sei que são muitas).
Houve horas em que eu desejei ter o poder de voltar no tempo para te proteger de todos os perigos pelo qual você passou. 

Eu sei que a sua vida não foi fácil. Você criou os seus irmãos, cuidou da sua mãe, deu-lhes uma vida digna, abdicou da infância e teve que crescer aos 14 anos. 
Você teve que amadurecer cedo demais e por isso tem pensamentos imutáveis. 
Pai, esse é você: o homem menino que ri assistindo Chaves e pede silêncio na hora do Jornal Nacional. 
Você é o menino que começa a dançar a música que toca no rádio de forma inusitada e de um jeito só seu. Você é o homem que cuida e corre atrás da felicidade da sua família.  Você é homem que cuida de mim quando estou doente. Você é o amigo que desabafa quando não consegue carregar a sua dor sozinho. Você é o meu anjo. Você é o meu orgulho. Você é a minha dor. Você é a minha paz. Você é o meu amor. 

- Filha, o que você está sentindo? Quer que o papai compre algo pra você? 
- Sim pai, eu quero. 
- O que você quer que eu compre Sandinha? 
- Um carro. - Eu disse rindo. 

 (E então, a gargalhadas, meu pai percebeu que eu já não estava mais tão doente como antes.) 


Te Amo PAI. E esse sim, é um sentimento imutável.





P.S: Texto escrito ao som de Lullaby – Nickelback *-*



(Alessandra Rocha) 



segunda-feira, 7 de maio de 2012

O amor me (re)encontrou


Não. Eu não sei o que é o amor.E acredito que daqui a 50 anos, ainda não saberei. Mas quando me encontro naquele olhar doce e mergulho naquele abraço terno, descubro o que é amar. Quando o admiro ao dormir, percebo o que é estimar. Quando fico feliz por saber que ele está feliz, entendo o que é querer bem. Quando ouço suas palavras de amor e quando sou sugada por seus beijos apaixonados, desvendo o que é ser amada. 
Eu não sei o que é o amor. Eu apenas sinto. Mas nem sempre foi assim. 


Alguns anos antes...




Eu era uma menina. Uma menina ingênua e feliz. Ainda não tinha amadurecido por completo e talvez, por esse motivo, o amor me encontrou.
Apaixonei-me por um amigo de infância, que na época, já era apaixonado por mim. Não chegamos a namorar, mas o tempo que ficamos juntos, bastou para que o amor brotasse em meu coração. 

Entre tantos desencontros, a nossa história chegou ao fim. Quando terminamos, meu coração se abriu em prantos. Rompemos algo que nem ameaçou ser. O único desafio a partir dali, era lidar com a sensação de algo inacabado. Porque tinha ficado inacabado. Ficou inacabada a nossa conversa, ficaram inacabadas as explicações, a além de tudo, ficou inacabado os sentimentos. Numa história onde existe começo, meio e fim, a nossa parou no meio e lá permaneceu. Um relacionamento inacabado foi tudo o que ficou.

Ele me decepcionou muito, e ainda assim, eu gostava dele. Mesmo com a decepção, eu não conseguia esquecê-lo de nenhuma maneira. Mesmo lembrando TODOS os defeitos que ele tinha, mesmo lembrando cada ato babaca que ele teve, mesmo sabendo que tinha milhões de rapazes melhores por aí, mesmo usando todas as táticas possíveis de desapego, parecia que o que eu sentia por ele só fazia aumentar. Ele não saia dos meus pensamentos e cada vez que eu esbarrava com ele na rua, meu coração acelerava, minhas pernas bambeavam e as minhas mãos ficavam gélidas. Eu me odiava toda vez que isso acontecia. Eu me sentia uma fraca, uma completa idiota.  

Em menos de uma semana ele começou a namorar. O namoro não durou um mês. Ouvi dizer que a namorada o traiu. Mas ele superou, e eu diria que até rápido demais. 
Depois de alguns meses ele começou a namorar novamente e eu, continuei sofrendo em segredo.  Qualquer lembrança ou qualquer encontro casual era uma tortura na minha vida. Chorei noites intermináveis. E achei que meu coração nunca fosse se curar.  
Apesar do namoro, minha intuição me dizia que ele ainda sentia algo por mim. Talvez ele realmente sentisse, ou então era apenas o desejo da minha mente apaixonada. Eu só me perguntava por que ele sempre dava um jeito de saber da minha vida. Toda vez que um amigo meu ia em casa, ele perguntava para o meu irmão se era meu namorado. Sempre que eu passava, ele fazia questão de me falar “oi”, mesmo sabendo que não teria resposta. Eu tentava entender o porquê de tamanha cordialidade. Parecia um sentimento de posse. Ele se sentia dono de mim, mesmo não estando comigo. Mal sabia ele, que ele era realmente dono de alguma coisa. Ele era dono do que eu tinha de mais valioso. Ele era dono do meu coração. 
Ele me intrigava. A verdade é que eu não olhava mais pra ele. Eu sequer falava “oi”. Indiferença era a minha única arma. Apesar de ser uma máscara, ela valia de alguma coisa. 
Passei longos anos assim: mostrando indiferença por fora e sofrendo por dentro. Quando eu achava que tinha esquecido, ele voltava para a minha vida em forma de sonhos. Eram sonhos lindos, mas que se tornavam pesadelos ao abrir dos olhos. 
Minha alma não encontrava paz. Eu queria me libertar. Eu queria tirar aquele sentimento do meu coração. Eu estava me tornando uma pessoa desacreditada. Desacreditada, contudo, no amor.

Não deixei que mais ninguém habitasse meu coração. Não permiti que mais ninguém entrasse na minha vida. Na verdade, nem eu me encontrava mais naquela bagunça. Eu estava exausta e cansada de tentar esquecer. Eu havia me perdido de mim.
Mesmo sofrendo e sangrando por dentro, tentei tirar toda lição possível dessa situação. Eu aprendi muito e foi através dessa dor que eu amadureci. 
Comecei a ver o mundo de outra forma. Comecei a observar os relacionamentos ao meu redor de forma crítica. Transformei esse sentimento em poema, história, escudo, espada. Transformei esse sentimento em antídoto contra outros possíveis e futuros machucados. Eu aprendi.  
Com o passar do tempo, fui abstraindo qualquer lembrança dele que ainda vivia em mim. Eu decidi que queria de verdade esquecê-lo e prometi que não iria falhar. Não dessa vez. 
Parei de ouvir as músicas que me lembravam dele, havia uma plaquinha no meu subconsciente escrito “PROIBIDO ESCUTAR”. Tentei desviar o pensamento quando, andando pela rua, passasse alguém com o perfume que ele usava. Livrei-me dos diálogos que habitavam a minha memória. Libertei-me da mania de lembrar todo ano do aniversário dele. Protegi-me contra os vacilos do meu coração. Implantei um escudo na minha mente contra qualquer ilusão sobre os seus sentimentos. Proibi a mim mesma, de escrever sobre ele. Já havia coisa demais na minha gaveta. Já havia lembrança demais na minha memória. 
A partir de então, recuperei a minha vida. Recuperei a minha paz. Recuperei tudo o que eu fui um dia. Não foi fácil, nem rápido. Mas e quem disse que seria? 
Entre tantos furacões e tempestades, a calmaria retornou para a minha vida. 
Eu estava leve. Eu estava renovada. Eu estava bem e pronta para recomeçar. 
Deixei de esperar muito das pessoas. Deixei de acreditar em muita coisa. Mas jamais deixei de acreditar no amor. Eu não procurava por ele, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele me reencontraria. 



Esqueci o objeto do amor. Não havia dor, mágoa, tristeza ou rancor. Só havia vazio. O vazio tomou conta de tudo. Meu coração nunca esteve tão mudo. Às vezes o vazio doía, até mais do que a própria dor. Mas eu estava bem, apenas não estava feliz como imaginei que ficaria. Faltava algo. E eu não sabia ao certo o que era. Era como se um pedaço meu, estivesse perdido por aí. E estava.




Depois de tanto sofrer, não imaginei que eu (ainda) fosse capaz de amar. Mas o amor me reencontrou. Ele me reencontrou quando eu menos esperava.Esse novo amor me mostra ser verdadeiro a cada dia, porque ele não me faz andar nas nuvens, ele me faz flutuar sem tirar os pés do chão. Ele não me faz sentir medo, ele aumenta ainda mais a minha fé. Ele não espera recompensa, ele se doa sem nada cobrar. Ele não cura as minhas feridas, ele me faz sentir como se jamais houvesse sido ferida. Se houve dor, sinto muito, eu não lembro. 



“Entre a dor e o nada o que você escolhe?”
Carlos Drummond de Andrade 



(Alessandra Rocha)