terça-feira, 11 de setembro de 2012

Duas crianças e uma bicicleta


Foram cinco minutos. Os cinco minutos mais constrangedores e alegres da minha vida.
Primeiro renunciei, mas logo me rendi ao seu pedido insistente de criança travessa.
Meus cabelos voavam e o vento fazia cócegas em meu rosto sonolento. Ele ria do meu medo e beijava o topo da minha cabeça. Tive vontade de abrir meus braços para contemplar aquela felicidade simples e momentânea, mas não ousei. Pensei que esse gesto faria de um momento alegre, um tombo desastroso.
Embora eu não tivesse aberto os braços, eu sentia a sensação eminente da liberdade em mim. E ele se divertia. Ria da minha insegurança e da vergonha que eu sentia por estar protagonizando aquela cena.
Ele não entendia que o motivo da minha vergonha era a falta de intimidade que eu tinha com a bicicleta. Acho que a última vez que andei em uma bicicleta, eu tinha em torno de dezesseis anos. Já a última vez que fui carregada no "cano" de uma, eu tinha uns dez.
Desaprendi a andar de "bike".Desaprendi, principalmente, como ser carregada por alguém em uma. Depois de onze anos me vi dando gargalhadas e morrendo de medo de uma simples bicicleta. Voltei a ser criança novamente e senti falta da minha tenra infância. 
Eu estava feliz, porque com ele, em questão de segundos, eu viajava entre a mulher e a menina que existia em mim. Só ele fazia isso comigo. Só com ele eu me sentia livre para ser o que eu quisesse. 
Eu sai de mim para admirar o momento. Fiquei de longe, observando encantada, as duas crianças conhecidas, brincando felizes com uma simples bicicleta.


(Alessandra Rocha)

Um comentário:

  1. ah, mais que linda essa menina! Adorei essa parte: "Eu sai de mim para admirar o momento." Vez ou outra fazemos isso, passeamos fora de nós, e é tão gostoso. Que gostoso vivencia mesmo que de longe seus sentimentos mais íntimos. Beijo pequena =*

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