quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Colo de amor


A casa da minha avó tem cheiro de infância e gosto de nostalgia. Lá, tudo brilha com saudade.

Sinto falta de despertar pela aurora e do aroma inigualável do café. Tenho saudade da inocência daqueles tempos e do choro causado pelos joelhos ralados de tanto correr. Hoje em dia, os choros são causados pelos ralados no coração.
Lembro-me do gosto da vitamina de abacate que era colhido com carinho pelo vovô e batido com leite com amor pela vovó. O abacateiro que nos dava o primeiro alimento do dia era o responsável pela sombra que nos acolhia ao raiar do sol.
Na casa dos meus avós, eu encontro a proteção contra as dores do mundo. É de lá que provém os conselhos salutares da vida. Lá não tem cadeira de balanço, mas o vô faz balanço na árvore pra eu balançar.  Qual desejo de neto não é atendido pelos avós?
Na casa dos meus avós, eu volto a ser criança. Brinco de ser menina e nada dói. Na verdade, dói sim. Dói muito não poder voltar no tempo pra celebrar a simplicidade do "ser feliz".
Na casa dos meus avós tem pé de maracujá, cana, coco, banana, tangerina, mamão, manga, goiaba, abacate e amora. São árvores que dão frutos de amor, compreensão, cuidado e proteção. Lá, a vida se faz sem medo, a alma se encontra leve e os sonhos amadurecem nos galhos.
Na casa dos meus avós, tem chuva de felicidade, suco de tranqüilidade e sono de curar. Vovó faz prece pra abençoar e nos cuida com doce de calda.
Na horta dos meus avós nasce mandioca, feijão, abobrinha, abacaxi e batata. Eles também semeiam confiança e lealdade de onde brota amor e verdade.
Na casa dos meus avós tomo banho de mangueira, ajudo na colheita da fé, como comida de amor e ouço os contos do vovô.
É na casa dos meus avós que eu viro amiga dos passarinhos, colhedora de sorrisos e caçadora de borboletas.
Na casa deles eu me permito ser frágil, pois sei que o remédio de palavras vem acompanhado de inúmeros abraços.
É lá que eu vejo que a vida é sopro breve, que as alegrias são sonhos leves e que tudo posso alcançar. Foi lá que aprendi a acreditar nos meus sonhos e a cultivar a minha fé. E é por tudo isso, que sempre que o mundo me machuca um pouquinho, é para o colo deles que eu volto. Ainda não encontrei lugar mais poderoso do que colo de avô. 


Alessandra Rocha 

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