sexta-feira, 6 de maio de 2016

Coração de andorinha

Minha cura?
Acostumei-me a enxergar mais além do que normalmente pode-se ver.
Continuei seguindo os caminhos que se abriam sob meus pés, ainda que não soubesse o que me esperava no horizonte. E o horizonte sempre foi minha maior ilusão. No entanto, descobri com ele, que quando chegamos lá, tudo ainda está longe do fim,. Então sigo além.
A pureza dos humanos que tropeçaram em mim e que me acompanharam pelo caminho, também foi crucial.
Mas a cura, a cura mesmo, eu encontrei aqui. Vê onde aponto? Não! Não no peito. É no que tem debaixo dele. Sob toda essa camada de pele, gordura, nervos e ossos. Foi nesse pássaro - que canta e que pulsa dentro de mim - que eu a encontrei.
Nada extinguiu essa minha acreditação no amor, apesar das pequenas quase mortes em vôos rasantes. Nada findou essa fé nas pessoas, apesar dos tantos sepultamentos e ferimentos causados nas asas.
Meu pássaro tem um tipo de esquecimento raro, e belo talvez. Ele apanha e sofre, mas sorri quando vê que o outro pode voltar a voar com ele.
Minha cura foi o entendimento de que a verdadeira morte é a ausência da esperança.
Acreditar é o que me possibilita voar. Esperar é o que me motiva a continuar. E continuar é, sobretudo, confiar no que ainda não se vê.
E eu compreendi: meu dom é insistir (nas pessoas, nos sonhos, na vida).


Alessandra Rocha

Nenhum comentário:

Postar um comentário