sábado, 25 de março de 2017

Ninho

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Feito andorinha, ela migrou do inverno - que se encontrava, sobretudo, em seu coração. Seguia em busca da felicidade que vem junto com a primavera.
Voando a esmo sem saber quando chegaria ao seu destino, carregava todas as feridas em sua bagagem. 
Ela renasceu, como as flores que sempre ganham uma nova vida após os rigores do inverno e embora estivesse rodeada por elas, ainda não aprendera a sentir o perfume que delas exalavam.
Essa menina, pequena como andorinha, não sentia muita coisa. Seu sentir era estranho, sem vida, quase anestesiado. E embora estivesse mais viva que outrora, não suportava o vazio que agora lhe fazia companhia.
O "nada" que fez morada dentro dela era muito mais doloroso do que a dor que sentira por tanto tempo. 
E ela se maravilhava transportando-se para o futuro em que encontrava o amor genuíno. 
Era incrível encontrar o seu lugar no mundo dentro do ninho que ela sempre sonhava em fazer morada. E esse ninho não estava tão longe dali, mas ela esbarrou no tempo que sempre foi o maior causador de desencontros da vida.
Ela nunca voou para muito longe de sua zona de conforto. Ela tinha medo de se deixar levar pelo vento do céu. Ela entendia os perigos do encantamento pelo infinito.
A primavera trouxe as flores e nesse tempo em que esteve só, o amor a encontrou. Ensinou-a como sentir o perfume das flores, fez-lhe companhia nos vôos e nos pousos e construiu com ela um lar de felicidade.
Eles voaram juntos e inventaram uma nova forma de sonhar, até que o inverno chegou, sinalizando que ela teria que migrar em busca da primavera outra vez. Contudo, dessa vez decidiu não partir. Andorinha que era, sabia que nenhuma tempestade seria o bastante para endurecer o sentimento que crescera com urgência. Dentro dela se fez uma certeza, ela gostaria de morar para sempre ali, ainda que tivesse que enfrentar os climas desconfortáveis de todas as estações. 
Ela encontrou nele o melhor lugar do mundo para viver: o seu coração.
A menina andorinha vive com o Senhor andorinho há 41 meses em um ninho, situado na Rua Dez de uma pequena cidadezinha do interior.
Essa andorinha é grata por ter encontrado seus braços para repousar depois de uma longa viagem.



Alessandra Rocha


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