segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sobre as cartas que me enviara


Hoje enfim, criei coragem para arrumar a minha gaveta. Havia tanta coisa esquecida por lá. Tanta coisa esquecida por mim. Havia muita coisa do passado que não me cabe mais. 
Tinha aquela velha agenda cheia de mágoas. Tinha aquele caderno da faculdade cheio de nostalgia. Tinha também,  as suas cartas. Nem parece, mas trocamos muitas cartas. Fiz uma coleção de cartas suas.
Lembra daquela carta com colagens que eu te enviei e que você leu durante o trabalho? Você me disse em uma das cartas que as pessoas passavam olhando e se indagando sobre o que se tratava aquele papel tão colorido. Você ainda disse que nem se importou com a curiosidade alheia e eu achei graça. Na verdade, você sempre foi distinta das pessoas que eu conhecia. Você era imprevisível e minimalista, e eu gostava disso. 
A verdade é que eu chorei. SIM, chorei ao reler as cartas que me enviara. Chorei ao reler suas histórias de dores e traumas. Chorei ao relembrar as tantas dificuldades pela qual você passou. Chorei lendo sobre a falta que sentes de seu pai. Chorei com os conselhos que me dava. Chorei inclusive, de saudade sua. É, saudade menina. E você nem imagina o quanto dói essa saudade. 
Limpei as lágrimas e joguei algumas coisas fora. Pensei que um dia eu fosse capaz de jogar suas cartas também. Pensei que um dia cortaria esse laço de vez. Mas como cortar um laço que apenas desfez o nó? O nó que emendamos com tanto amor e carinho há alguns anos atrás. O nó que deixara o nosso laço firme e forte. 
Não tive coragem. Não me convém jogar fora o que um dia me fez tão feliz. Inclusive, não lhe joguei fora. Você ainda vive em meu coração. Ainda vive nas minhas lembranças, apesar de eu não saber o que nos levou a esse drama (que, diga-se de passagem, ainda não superei). Eu sofri por nós duas, eu chorei por nós duas, eu joguei meu orgulho fora pela amizade que construímos em três anos. Mas entendi que desfazer o laço era a SUA vontade, então respeitei. Embora respeitar, não signifique aceitar. 
Ainda sim, penso em você. Rezo para que você tenha arranjado emprego, para que sua sobrinha linda esteja bem e para que seu pai volte.
Rezo para que você se encontre e entenda o seu valor. Rezo para que a sua estrela brilhe e que você conquiste tudo o que sempre almejou. Ainda que você não esteja nem um pouco preocupada com a minha felicidade, eu me preocupo, e muito, com a sua. 
Sei que não me lerá e se me ler, sei que não fará diferença. Mas não escrevo pra você, escrevo para lembrar-me que se você pôde compartilhar da minha vida, você tem o direito de voltar e ficar (se quiser, claro). Talvez eu lhe mande uma carta ou lhe envie uma mensagem. Talvez eu diga o que eu disse aqui, ou apenas pergunte como está. Talvez eu lhe peça desculpas por ter deixado o nó se desfazer ou chore por isso. Talvez eu diga "Te quero bem, mesmo que longe de mim".


(Alessandra Rocha)

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