sábado, 21 de janeiro de 2012

Ele sempre soube - O jogo

Dia doze de outubro de dois mil e onze, domingo, dia das crianças.
Eu estava ansiosa desde que abri os olhos e levantei da cama. Depois de muitas mensagens, ligações e conversas no msn, a única coisa que eu desejava era reencontrá-lo e saber se tudo que eu estava sentindo era real.
Pensamentos me deixaram absorta a maior parte do tempo.
 ''O que será que ele quer?'', ''O que será que ele está pensando?'', ''Será que ele é diferente dos outros?'', ''Será que ele sente algo por mim?'',''Como será que ele irá reagir no mesmo ambiente que a ex?''
Várias perguntas permaneciam na minha cabeça e nenhuma continha respostas.

O jogo de vôlei estava combinado as quatro horas da tarde e eu ansiosa desde que acordei.
Ás três e vinte ele já estava em casa, minha mãe o atendeu, e eu estava acabando de me arrumar.
Quando sai, ele me olhou com encantamento:

- Você não vai jogar?
- Vou, porque?
- Você vai jogar linda assim?


Como assim linda? Eu estava com uma calça legging, uma mini-veste com capuz e tênis. Eu estava com uma roupa para esporte e ele me achou linda? Ok. Eu levei como um simples elogio, não queria criar nenhuma expectativa além das que eu já tinha dentro de mim.

Entramos no carro e fomos até o clube da empresa em que eles trabalhavam.

Chegamos, cumprimentamos todas as pessoas presentes no local e separamos os times por um sorteio. Eu cai no time dele e isso foi bem legal.


Começamos a partida, eramos três times, sempre que um perdia, jogava contra o outro. E essa era a minha chance. Chance de analisá-lo e perceber qualquer indício de amor pela ex (apesar de saber que existia, mesmo sem ele demonstrar). Os jogos foram divertidos e a coisa mais  gostosa era vê-lo me parabenizando por algum ponto ou defesa. Os jogos seguiram até as pessoas começarem a se dispersar e ir embora.

Dezenove horas. Ele teria que deixar minha irmã e eu em casa, mas antes chamou o primo para ir junto  e nos convidou para ir comer lanche na praça. Aceitamos, e ao som  de Bone Thugs N Harmony voltamos zuando, cantando e rindo no carro.



Chegamos na praça, pedimos nossos lanches e sentamos no banco onde ele parou com o carro em frente. Enquanto o lanche não ficava pronto, conversávamos sobre assuntos variados e aleatórios. 

De repente seu celular tocou, ele olhou como quem lê o nome na tela e saiu para atender alguns 8 metros de nós. 

''- Hummmm, será que ele tá ficando com alguém? Quem será que é? Porque ele não atendeu aqui? Porque eu tô inquieta? Será que isso é ciúme? Mas eu tô sentindo ciúme de alguém que eu nem beijei? Porque eu tô sentindo raiva? Será que vai começar tudo de novo? '' 


Enquanto a Ká e o primo deles conversavam, esses pensamentos me deixavam em estado de alerta. A única coisa que eu não queria era me apegar a ele e sofrer qualquer decepção futuramente. Eu o observava de longe, tentando codificar as palavras que saiam dos seus lábios. Me intrigava não saber com quem ele falava e o que mais me deixava inquieta era não saber qual era o grau de afetividade que essa pessoa tinha na vida dele. 

A partir de então, percebi que algo em mim já tinha mudado. Eu havia criado expectativas e eu só esperava que essas expectativas não fossem em vão. 

Ele desligou o telefone e veio em nossa direção sem nada falar, foi até o carrinho de lanche ver se estava pronto e seu primo o acompanhou. Eu estava de costas para eles e conversava com a Ká sobre algum assunto rotineiro. Senti as mãos de alguém vendando meus olhos e sem nada falar a pessoa permaneceu. Percebi que o silêncio era uma forma de dizer : '' Adivinhe quem é.'' então comecei apalpar os braços, e mesmo sabendo que se tratava do Francisco, através do perfume que invadia as minhas narinas, averiguei se eram os braços largos e fortes que tinham jogado vôlei naquela tarde ensolarada. 

- Hummmm... Francisco ?
- Olha, ela sabe que sou eu! - Ele disse tirando as mãos dos meus olhos.

Claro que eu sabia, através do perfume inconfundível e dos braços fortes e largos... Mas isso, era algo que ele não precisava saber. E ele não soube. 




Os lanches ficaram prontos, nos apertamos no banco para que coubéssemos os quatro e comemos sem muito assunto. Assim que acabamos, pedi para que ele nos levasse embora, pois já passavam das oito horas da noite e por se tratar de um domingo, diga-se de passagem, já era um pouco tarde. 

Quando chegamos em casa, nos despedimos e a Ká o convidou para ir no Baile do Havaí conosco. Ele disse que se tivesse folga no dia iria com muito prazer e ainda levaria o seu primo junto. Ok, estava combinado, e apesar de eu querer muito que ele fosse, não foi eu quem o convidei, o que significava que se ele não fosse, eu não teria nenhuma expectativa frustada e isso era bom. 

As expectativas ainda estavam no mesmo estágio. Até o momento em que sentei na cama e meu celular começou a vibrar. Era uma mensagem. Uma mensagem dele. 

- Eu achei que você não fosse jogar hoje, porque você estava linda. O dia começou lindo e ficou mais lindo a partir do momento em que você entrou no carro. 

Eu fiquei sem palavras e mais  tarde ele enviaria a mais significativa de todas:
- Eu só inventei de comer lanche pra ficar mais tempo com você. Só inventei de ir no baile para evitar que algum ''gavião'' atacasse. 

Eu não acreditei quando li, apenas sorri. 
E sobre as expectativas. Bem, elas já estavam maiores do que deveriam. 
Aos poucos ele me conquistava e então percebi que tinha entrado num caminho sem volta... Ou eu me arriscava a ser feliz ou eu desistia sem tentar. Mas no meu vocabulário, a palavra ''desistir'' havia deixado de existir há muito tempo, então só me restava a primeira opção.




P.S: Antes desse episódio, havíamos nos encontrado na Jornada Mundial dos Jovens, onde ao nos despedirmos, ele me deu um selinho no canto da boca, que me deixou envergonhada e confusa ao mesmo tempo. Ele já sabia o que queria e isso era fato irrevogável. 


(Alessandra Rocha )




Nenhum comentário:

Postar um comentário